Friday, October 27, 2006

Aqueduto


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O aqueduto de Setúbal constitui mais um dos nossos monumentos que se encontra ao abandono, deteriorando-se à medida que o tempo passa, perante a incúria das autoridades e a apatia dos cidadãos. A sua parte mais visível, próximo do centro da cidade, foi alvo de uma operação de maquilhagem, que o cimentou grosseiramente, e imagino que deve ser algo do mesmo tipo o que estão a preparar para o Convento de Jesus.

Também conhecido como Aqueduto da Arca d'Água, a sua construção foi iniciada em 1487, por D. João II, tendo sido terminado já no reinado no reinado de D. Manuel I. Quem caminhar no sentido da nascente — desde o jardim da Algodeia (foto de cima) até à Quinta da Arca d'Água, no sítio de Alferrara — encontra logo, já muito próximo da rotunda da "via rápida", oito dos arcos do aqueduto embebidos no passeio. Esta insólita "solução" foi engendrada na sequência das obras de um edifício de construção recente e que se encontra a poente destes mesmos arcos.

Evidentemente, por cima do arco falta a conduta de água, mas as respetivas pedras encontram-se mais à frente, numa zona ajardinada do referido edifício, servindo de elemento decorativo. É caso para perguntar: quanto terão pago à Câmara por aquele património? Provavelmente nada.

A seguir o aqueduto desaparece, e é necessário seguir pela Estrada das Machadas de Cima, na direcção de S. Paulo, para o voltar a encontrar, surgindo do lado esquerdo.

Mas é preciso estar atento, porque a construção se confunde com um simples muro. Como se pode ver na foto do lado, quem passa na estrada dificilmente se apercebe da presença do aqueduto, até porque, nalguns troços, se encontra disfarçado pela vegetação.

A certa altura temos de sair da estrada, e tomar um caminho à esquerda, para podermos acompanhar o aqueduto. Nesta zona aumenta de altura, mas continua a confundir-se com um muro, e é mesmo utilizado como tal pelas quintas ali existentes. Como se pode ver na fotografia da direita, aqui foi destruído para dar lugar a um portão. Apesar do aspecto vestuto, não pode ser feito muito antigo, pois o curso da água não poderia ter sido interrompido.

Mais à frente, um novo portão, desta vez com o aspecto austero de quem quer passar despercebido — embora se note, pelo tipo de vedação colocada por cima do aqueduto, que se trata de uma obra dispendiosa.

Quase duvidamos de que se trate do aqueduto, mas basta espreitar para o seu topo para encontrar a caleira da água (foto da direita).

Prosseguindo o caminho, o aqueduto volta a aumentar de altura, para compensar o declive da encosta.

A seguir faz um ângulo de 90 graus para a esquerda e, mais à frente, encontra-se um troço que ruíu (foto da direita). A derrocada também não deve ser muito antiga. Os proprietários da quinta "murada" pelo aqueduto colocaram um tubo de borracha a servir de barreira improvisada.

Espalhadas pelo solo, ainda são visíveis a abóbada de um arco, que deveria estar embebido na alvenaria, e várias pedras da caleira, com grossas camadas de calcário depositado ao longo dos séculos (foto da esquerda). Ao inflectir para a direita, falta mais um enorme troço, provavelmente removido para dar lugar à estrada que temos vindo a percorrer. Ressurge mais à frente, servindo agora de divisória entre terrenos agricultados, para voltar depois a ser de novo interrompido por outra estrada.

Na continuação, apresenta já um aspecto muito diferente: em vez da pequena caleira superior, tem agora o porte de um corredor, por onde uma pessoa pode caminhar sem grande dificuldade. No entanto o caminho encontra-se obstruído por derrocadas parciais, por lixo, e até por vegetação que cresce no seu interior — como é o caso da árvore visível na foto, que ameaça contribuir para a destruição do monumento.

É certo que os tempos não estão para grandes despesas com recuperação de monumentos. E dinheiro, se houvesse, deveria certamente ir, em primeiro lugar, para o Convento de Jesus. No entanto, creio que não devemos desistir do aqueduto.

É uma construção demasiadamente importante para que encolhamos os ombros. Assinalar a sua existência, vigiar a sua integridade, impôr a reconstrução dos troços indevidamente destruídos, promover visitas e caminhadas que aliem a prática do desporto saudável com a protecção do património — pelo menos estas são coisas que se podem fazer sem necessidade de muito dinheiro. Façamos então campanha pelo Aqueduto da Arca d'Água.

6 Comments:

At 7:24 pm , Blogger paulo pisco said...

Temos de fazer algo. Para já um passeio, durante o passeio podemos pensar em algo.

 
At 5:54 pm , Anonymous Anonymous said...

Olá João, mais uma vez um reportagem interessante.Cá sempre pode aprender uma coisa nova sobre Setúbal .

 
At 3:11 pm , Anonymous Anonymous said...

E aproveitemos para recordar que, através do artigo 2.º do Decreto n.º 516/71, de 22 de Novembro, o «Aqueduto de Setúbal, também conhecido por Aqueduto da Estrada dos Arcos, em Setúbal» foi classificado como imóvel de interesse público.

 
At 9:46 pm , Anonymous Anonymous said...

A seguir ao "edifício novo" das rotundas da "via rápida", o aqueduto aparentemente desaparece. Mas durante um trabalho universitário de levantamento dos edifícios abandonados contíguos à universidade Moderna, numa abertura das paredes nota-se bem a existência da caleira do mesmo aqueduto. Pronto, já ajudei a encontrar o aqueduto perdido neste troço. Pena que seja abandonado e até ignorado por quem o vê. Talvez venha a ser destruído inadvertidamente em vez que vir a valorizar esta zona anexa à universidade.

 
At 12:44 am , Blogger Unknown said...

Não sei se voces tem noção, muito provavelmente até têm mas ainda mais para cima do que é documentado nesta reportagem existem camaras nas quais até se pode entrar até certo ponto. Estou bastante interessado em informação relativa a este tema. Se poderem digam-me algo.

 
At 12:56 am , Anonymous Anonymous said...

Também no outro dia andei lá a fotografar essa situação. Tudo me chocou. Terá todo o apoio da minha parte se resolver fazer "alguma coisa".
Mais um pedaço de história que está cidade não compreende.
Não esses dados sobre o aqueduto, obrigado pela informação.

 

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