Tuesday, September 26, 2006

     Da China ao Gueto

     «Vai uma pessoa ao Pavilhão Chinês, um dos melhores bares de Lisboa (para mim o melhor), desfrutar daquele ambiente requintado mas descontraído, museológico mas divertido, coisas de local histórico, bem frequentado e único no mundo, para depois voltar ao burgo sadino e acabar no forno da pastelaria Vitória?!
     «Não, isto não é vida!
     «Poderia reconfortar-me o ânimo saber que por terras de Setúbal existe um La Bohéme, bar igualmente típico, não tanto à moda antiga em certos aspectos, mas acolhedor e amante de boas conversas noite dentro. Só desfaleço nesse reconforto quanto ganho noção de que mais não passa de uma rasca imitação do seu congénere da Capital, ainda para mais com não menos rasca clientela, numa cidade que também ela se enrascou no tempo, parou, estagnou… morreu.
     «Conversava ontem, junto às mesas de jogo do Pavilhão, que as margens do Rio Tejo separam dois mundos completamente diferentes. Basta ir ao Almada Fórum, como fiz antes de entrar em Lisboa, para notar essa realidade. E não se trata tanto de estrato social, mas do modus vivendi da cultura de gueto que se gerou a partir de Almada. Quem passa a Ponte Salazar em direcção a Sul entra em realidade distinta da vivida a Norte. São terras pequenas, habitadas por gente pequena, com níveis culturais e sociais pequenos, tendencialmente de esquerda comunista. Não lêem jornais que não sejam os paroquiais, não ouvem musica que não seja a “comercial” e não conversam para além do mexerico de bairro. Para descontrair vão fazer o “avio” do mês ao Pingo Doce mais próximo ou dar umas voltas com os dreads da zona pelos mil e um fóruns comerciais que existem, dos quais só Setúbal, a capital de distrito, não mereceu um. Enfim, um mundinho que se criou entre o Tejo e o Sado no qual não me revejo de todo mas tenho de ir aguentando enquanto não posso fugir.»
[...]

in O Estado do Tempo

1 Comments:

At 1:53 pm , Anonymous Anonymous said...

Ponte Salazar? Que insulto!

O que é que tens contra as pessoas da Margem Sul? São broncos, é? E se fosses aos subúrbios de Lisboa da Margem Norte? Não é a mesma merda?
Eu nem sequer sou da margem Sul.

 

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home