Wednesday, September 20, 2006

Importuna Razão

Bocage

     Importuna Razão, não me persigas;
     Cesse a ríspida voz que em vão murmura;
     Se a lei de Amor, se a força da ternura
     Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;

     Se acusas os mortais, e os não abrigas,
     Se (conhecendo o mal) não dás a cura,
     Deixa-me apreciar minha loucura,
     Importuna Razão, não me persigas.

     É teu fim, teu projecto encher de pejo
     Esta alma, frágil vítima daquela
     Que, injusta e vária, noutros laços vejo.

     Queres que fuja de Marília bela,
     Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
     É carpir, delirar, morrer por ela.

Bocage

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