Friday, October 06, 2006

Explicações e confusões

     O assalto de 4ª feira passada à dependência bancária da Av. Rodrigues Manito passou da fase "épica" para a da "explicação" dos motivos do assaltante.
     Inicialmente, foi o Correio da Manhã quem conseguiu alguma informação, tendo divulgado que o sequestrador seria proprietário de um estabelecimento comercial a escassa dezena de metros do banco e que o objectivo do assalto seria arranjar dinheiro para pagar os tratamentos médicos de um filho gravemente doente. Sabe-se agora que isto é apenas pacialmente correcto, e que resultou de informações dadas pelo próprio assaltante, ainda no interior do banco. No entanto, como essas informações só eram do conhecimento das forças policiais que comunicavam com o interior do estabelecimento, o "furo" jornalístico do Correio da Manhã é de realçar e levanta a suspeita de que a operação policial não foi lá muito "estanque".
     Jornais de hoje (nomeadamente o Público) revelam que o assaltante é um ex-comando do Exército e, actualmente, proprietário de pelo menos um bar e dois restaurantes no centro de Setúbal. Teria sido o avolumar das dívidas a fornecedores que terá conduzido à decisão de assaltar o banco.
     ADENDA: o Correio da Manhã escreve que o autor do assalto é proprietário do snack-bar Bica Douro, na Praça Almirante Reis (também conhecida por "Combatentes", por estar na continuação da Av. dos Combatentes) e que aguardava um avultado empréstimo do BES, cuja concessão estaria a demorar, com prejuízo de um trespasse que pretendia realizar.
     Há uma série de pistas que indicam amadorismo nesta acção: actualmente os bancos estão de tal modo protegidos (cofres com abertura retardada, por exemplo) que mesmo num assalto bem sucedido é difícil conseguir roubar verbas importantes, que justifiquem os riscos que se correm. É por isso que os assaltos profissionais se dirigem, por exemplo, às carrinhas de transporte de dinheiro entre bancos.
     Outros indicadores de amadorismo são o facto de o assaltante deixar os sequestrados usar os telemóveis (pelo menos para mensagens) e também de os deixar circular livremente no interior do estabelecimento, como se pode ver em imagens captadas do exterior pelas televisões. Tratando-se de uma pessoa conhecida em Setúbal, não se percebe como é que foi mantendo a exigência de 100 mil euros: mesmo que lhos viessem a dar, não seria plausível que saísse com o dinheiro pela porta fora e fosse calmamente à sua vida, pagar as dívidas, etc.
     Um pormenor anedótico ocorreu com a namorada de um dos sequestrados: depois de receber um SMS do namorado a dizer que estava no interior do estabelecimento assaltado, enviou-lhe outro SMS a perguntar se estava a ser assaltado ou a assaltar o banco - facto que a própria relatou depois a uma das televisões.
     Mas a maior anedota é revelada pelo jornal Público: "A operação de resgate foi marcada por alguma tensão entre as diversas forças policiais. A PSP terá entendido que a negociação com o sequestrador era da sua competência, já que se tratava de uma acção que visava repor a ordem pública, enquanto a PJ, a quem compete em exclusivo a investigação dos assaltos a bancos, teria um entendimento diferente. A tentativa de negociação acabou por ser feita pela PSP, sem colaboração da PJ, acabando por resultar na mais longa espera de sequestrados."

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