Monday, February 05, 2007

Um quartel abandonado

fotografia alojada em www.flickr.com
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Debate sobre o "Quartel do 11"
8 de Fevereiro - 18 horas
Clube Setubalense
(Av.Luisa Todi 99)

     Para uma nação com tantas batalhas no currículo, o abandono de um quartel não parece ser uma coisa sensata, mas é precisamente isso que se passa em Setúbal.
     O "Quartel do 11" é o nome corrente do baluarte de "Nossa Senhora da Conceição", na ponta sudoeste da muralha construída em Setúbal no século XVII, após a Restauração. Foi um dos 11 baluartes que compunham a nova muralha e, na sua origem, situava-se sobre a praia e o rio - veja-se o desenho de baixo - mas os aterros que originaram a zona ribeirinha de Setúbal acabaram por o colocar "a seco". Durante muitas décadas funcionou ali o Quartel de Infantaria 11, facto que esteve na origem da sua actual designação. Actualmente o baluarte encontra-se desocupado, mas o que lá está edificado são ainda as instalações militares.


        As muralhas antes dos aterros portuários.

     Desde que os governos começaram a vender património público para calafetar os défices orçamentais que o baluarte tem sido incluído nas listas de bens a vender, embora a Câmara de Setúbal, nos últimos anos, tenha manifestado a intenção de ficar com o edifício para ali instalar um "centro cultural". No entanto, tratava-se apenas de uma "ideia vaga" (uma imagem de marca do presidente Carlos de Sousa), sem nunca ter existido um verdadeiro projecto de utilização do edifício. Além disso, também nunca houve dinheiro para o comprar.
     Entretanto surgiu o Setúbal Polis, como iniciativa de investimento misto (público e privado) para renovar a zona ribeirinha (entre a Avenida Luisa Todi e o rio). A ideia central do projecto Setúbal Polis era o de levar a cabo um projecto motivador, que revolucionasse a relação da cidade com o rio e ajudasse a projectar a cidade de Setúbal. Ora, tanto por incapacidade política como por falta de meios financeiros, o Setúbal Polis, na sua filosofia original, encontra-se moribundo, e a única coisa que se prevê fazer são arranjos urbanísticos e alguma construção de edifícios pelos privados. Em vez de motivar a cidade, o Setúbal Polis só conseguiu, até agora, levantar objecções por parte dos setubalenses.
     A zona do Quartel do 11 era uma das mais emblemáticas do projecto, pois previa a transformação da doca das Fontaínhas numa marina de recreio, com construção de edifícios à sua volta. O vereador Aranha Figueiredo (entretanto substituído nesse cargo) apostou numa parceria com o grupo Amorim, o qual, tendo investimentos na estância de Tróia (o Casino) chegou a apresentar um projecto que previa um "centro comercial ao ar livre, denominado "Dolce Vita Setúbal", com uma área bruta locável de 24 mil m2 e construção de raiz de 17.841 m2 acima do solo, para comércio, serviços e restauração, num total de 125 unidades comerciais." Entre as contrapartidas deste projecto, a Amorim comprometia-se a fazer a reconversão do baluarte/Quartel do 11. Mas o Estudo de Avaliação de Impactos Ambientais apontou efeitos negativos ao nível das acessibilidades e integração paisagística, embora avaliasse positivamente vertente sócio-económica - e o projecto acabou por ser abandonado. Para este insucesso também terá contribuído a recusa da APSS em deslocar o terminal de ferrys para montante.
     Com um Setúbal Polis já muito distante do optimismo inicial, sem solução para a doca das Fontainhas, sem dinheiro para grandes investimentos e sem capacidade para se articular com a APSS, não se vislumbra qualquer solução para o "Quartel do 11". Mas veremos o que é que o Setúbal Polis tem a dizer no debate: pode ser que nos surpreenda. A Câmara, com a nova vereação, também já não parece fazer muita força na ideia de um centro cultural, e o mesmo se pode dizer da população e dos agentes culturais em particular.
     O Quartel do 11 não é o único baluarte das muralhas seiscentistas que se encontra em maus lençóis: o mesmo se passa com o seu irmão gémeo localizado entre o Clube Naval e o Mercado do Livramento, ou o que se encontra junto ao Convento de Jesus, ou o da Boa Morte, ou o do Cemitério, etc. Espanta que uma cidade com tantas muralhas históricas desconheça que elas existam e não tenha sequer planos para a sua recuperação em termos de valorização histórica e turística.

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Quartel de Infantaria 11 em dias mais animados.

2 Comments:

At 5:18 pm , Anonymous Anonymous said...

Aí está uma iniciativa interessante. No meu caso, só é pena ser nesse dia a essa hora, pois tenho compromissos académicos inadiáveis em Lisboa.

 
At 10:10 pm , Blogger ac said...

Nos últimos fins-de-semana, em escapadas breves a Setúbal, percorri lentamente a muralha velha e o seu interior. Reencontrei as ruas e casas da minha meninice e adolescência, vividas na cidade medieval: Largo das Machadas, Escola do Sousa, Rua dos Caldeireiros, Rua do Abrantes, Moagem, Ximenes (desculparão os mais novos a forma de me referir aos espaços onde vivi e convivi).
E senti uma enorme tristeza pela degradação, pelo abandono, pela pobreza.
Observei, uma a uma, as portas e janelas com a esperança de ver assomar um rosto conhecido. Vi vidros partidos, cortinas cinzentas a flutuar ao vento, aberturas entaipadas.
Que se pode fazer pela cidade? Que posso fazer pela minha cidade? Que estão a fazer pela cidade?

 

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