Tuesday, March 13, 2007

O parque da Bela Vista não existe...

fotografia alojada em www.flickr.com
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     Trata-se de uma ironia, claro: o parque da Bela Vista existe e recomenda-se. Trata-se de uma enorme zona verde, muito agradável, com boa manutenção e limpeza, própria para passeios, desporto (incluindo campos de ténis e futebol), recreio das crianças (tem parque infantil), piqueniques, ou simplesmente para apreciar a magnífica paisagem que inclui Tróia e o rio Sado. É verdade que, sendo um jardim jovem, tem ainda poucas árvores de grande porte, mas tem as suficientes.
     A ironia do título justifica-se por isto: os setubalenses ignoram que ele existe, ou pelo menos não o utilizam. Faz pena ver um equipamento daquela qualidade ser tão pouco usado. No passado domingo de manhã, por exemplo, havia mais gente sentada nas bancadas dum campo de futebol ali próximo, do que no próprio parque. Será por causa do nome Bela Vista, que a comunicação social tem injustamente conotado como sendo uma zona "perigosa"? Nada mais enganador!
     A verdade é que os setubalenses têm uma ideia errada da sua cidade: dizem mal dela, e na maior parte das vezes, injustamente! É uma ideia forjada. Estou certo que parte desta auto-despromoção teve origem nas lutas partidárias: com objectivos eleitoralistas, têm-se feito afirmações inacreditáveis. Diz-se, por exemplo, que nada foi feito em Setúbal nas últimas décadas. Ora, se nada foi feito, também o parque da Bela Vista não foi, e portanto não existe!
     Diz-se que Setúbal está de costas voltadas para o rio. Quem acredita nisto, não pode admitir que existe o parque da Bela Vista, magnificamente aberto para a paisagem ribeirinha.
     A sério: vale a pena frequentar o parque da Bela Vista. Durante muito tempo, visitando o parque da Paz, em Almada, eu lamentava que não existisse algo semelhante em Setúbal. Pois agora já existe, e com vantagens: tem uma melhor ligação pedestre à cidade do que acontece em Almada, cujo parque está rodeado de vias rápidas que tornam impraticável o acesso a pé desde a cidade. No parque de Almada são audíveis os ruídos do tráfego da ponte, as sirenes das ambulâncias que demandam o hospital Garcia de Orta e os aviões que voam baixo na direcção da Portela. Nada disso existe no parque da Bela Vista: apenas um silêncio calmo que deixa ouvir o canto dos pássaros nos pinheiros. Deixo como sugestões: que se substituam os tradicionais contentores de lixo (com rodas) por equipamentos menos visíveis, que se melhorem os acessos pedonais desde os bairros próximos, com placas a assinalar o parque, e que se utilizem os mega-cartazes também para uma grande campanha a favor da utilização do parque da Bela Vista.

3 Comments:

At 10:37 am , Blogger Barao said...

A passagem de um estado de euforia desmedida para a depressão desconcertante é mesmo uma marca que não é exclusivamente setubalense, mas nacional.
Eu chamo também à atenção, por ser naquela zona da cidade, da recuperação (feitaem 2006) da Ermida de Santo António pela Paróquia de S. Sebastião - comparticipada a 70% pelo Estado e uma luta bem sucedida do Governo Civil de Setúbal. Um bom exemplo de recuperação de património feita em Setúbal, com articulação de várias entidades.

 
At 3:12 am , Anonymous Anonymous said...

É no parque da bela vista que faço quase todos os dias as minhas caminhadas, e também a mim me dá pena não ver mais gente por lá... Vivo muito perto, no bairro 2 de Abril, mesmo em frente ao dito bairro mal afamado, e por vezes saturo-me pela visão tão reduzida e até horrorizada que quem está de fora pode ter do que é viver num bairro social como este. Aqui cresci, aqui optei por continuar a viver. Não é por resignação, também não é por convicção, é ... "porque não"? Tenho formação superior, tenho um emprego de sucesso, poderia virar facilmente costas a este bairro, e no entanto a minha opção de não desistir de viver aqui tem muito a ver com o ter criado laços muito fortes ás pessoas que me rodeiam, aos meus vizinhos, que são como familia, e ás paredes que me viram crescer, e que ainda hoje me amparam tão bem... Foi a vivência nestas ruas, neste canto da cidade, que me deu os alicerces para a vida, e é isso que eu agradeço sempre que chego a casa... Quem sabe se um dia destes vou viver para outro lado, ou se ficarei toda a vida por aqui, não é isso que aqui interessa, não estou a fazer campanha politica. Estou mais tentar explicar que os bairros sociais não são bichos papões. São bairros com pessoas lá dentro, a maioria dela de bem, familias como qualquer outras, com sonhos, projectos, esperanças, e outros condimentos da vida... E que não precisam de mais exclusão do que a que já é provocada pela arquitectura.
Um abraço, obrigada por falar do "meu" parque!

 
At 3:41 pm , Blogger Cenoura said...

Passava por ele todos os dias a caminho da Manuel Martins onde estive colocada dois anos.
Conquistou-me e parei muitas vezes no regresso para recarregar baterias.
Ao fim da tarde tem uma vista linda sobre o rio. Inesquecível mesmo. Este ano fui parar à Dom João II e, sempre que está sol e eu apanho algum furo é para lá que vou ler e ou caminhar.
:)

 

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