Monday, April 30, 2007

Mini-Polis

fotografia alojada em www.flickr.com
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     O programa Setúbal Polis, como se sabe, tem sido o símbolo do plano descendente em que as expectativas dos setubalenses têm vindo a rebolar pela encosta abaixo. Desde aquele dia em que o então ministro José Sócrates, discursando no Forum Luisa Todi, anunciava que já havia estudos "a mais" e o que era preciso agora era "acção", dando assim início à contagem decrescente do relógio da Avenida Luisa Todi, que as esperanças prometidas por esta obra têm vindo a encolher ao mesmo ritmo dos algarismos do referido relógio.
     No entanto, olhando para a "antevisão" apresentada na imagem de cima, sou assaltado pela ideia de que — do mal o menos — talvez tenha sido melhor assim. Se era para encher a zona ribeirinha de prédios, tal como a imagem sugere, então é preferível que as coisas fiquem por uma maquilhagem da Avenida Luísa Todi. A mim não me aflige que o trânsito fique mais complicado nesta zona: quanto mais se agiliza o trânsito no centro da cidade, mais automóveis para lá irão, sempre até ao limite em que o comodismo dos automobilizados o justifique. Trânsito mais lento significa menos trânsito, e isso é bom. Em contrapartida, que se promova a circulação por bicicletas e outros veículos não poluentes (espero que não desistam da ciclovia...)
     No entanto, de todas as coisas que ficam por fazer do Polis, a que mais me preocupa é o recente abandono passagem inferior para automóveis, junto ao supermercado Pingo Doce, e que tinha como principal objectivo permitir a ligação pedonal entre a Praça do Bocage e a zona Ribeirinha. Esta era a solução emblemática que o arquitecto Manuel Salgado tinha encontrado para desenvolver o espaço público e ligar a cidade ao rio. Este é um aspecto estruturante que fica irremediavelmente comprometido. Diz a Câmara que o abandono se prende com «dificuldades na negociação com o Pingo Doce para a transferência para outro local». É o que temos a esperar destas superfícies comerciais, que são inicialmente apresentadas como importantes investimentos para a modernização do comércio mas depressa revelam a sua faceta conservadora e monopolizante.
     Desconfio bem que foram aquelas alvas Graças que se meneiam em cima da fonte luminosa, quem influenciou os deuses para bloquearem uma obra que iria afastá-las para o ocaso, dando maior projecção e visibilidade à preta Musa do Bocage, que ainda se há-de arrepender de lhes ter virado as costas, enquanto toma displicentes banhos de assento na água de malvas do sapal da Praça bocageana.

5 Comments:

At 12:27 am , Blogger Isabel Victor said...

Oh que VISÃO !
Cliquei para AQUI e eis ... a POLIS setubalense !

Na Ágora
em exposição
em debate

Mora na filosofia ...
para quê rimar AMOR e DOR ?

BlogAbraço

 
At 2:01 am , Anonymous Anonymous said...

Só uma pequena correcção de interpretação (para que não fique muito angustiado): os prédios representados a azul correspondem aos existentes, os rosa às novas edificações propostas.

cumprimentos

 
At 9:50 am , Blogger Joao Augusto Aldeia said...

Agradeço os comentários. No entanto, no que diz respeito ao expansionismo rosa, devo chamar a atenção para o bloco mais à esquerda, onde hoje é um parque de estacionamento ao ar livre, e que não parece nada rosado.

 
At 12:44 pm , Anonymous Anonymous said...

Mais um projecto virtual!

 
At 1:50 am , Anonymous Anonymous said...

está pouco rosado, mas isso é da posição da imagem (com fachadas em sombra), porque pelo que me lembro de ver o silo automóvel - é o que está previsto para aí - está rosado nas plantas de apresentação do Polis.
Como este é um dos Polis feito sem orçamento, uma boa parte do financiamento previsto vem de "investimento privado", que naturalmente corresponde à alienação de espaço público actual para construção. Mas olhe que o centro comercial que foi proposto para aí implicava a construção em cima do que hoje é via pública.
Sinceramente, estava à espera de algo ainda muito pior.

 

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