Tuesday, June 12, 2007

Tiro ao Aeroporto

     «A avaliação feita a várias alternativas perto ou dentro do Campo de Tiro de Alcochete põe de parte os entraves ambientais que chumbaram a Margem Sul, mas afasta a hipótese Poceirão
     Longe dos corredores de circulação de aves, afastada das zonas classificadas, com impacto médio sobre o aquífero e sem obrigar a grandes derrubes de sobreiros, a ponta leste do Campo de Tiro de Alcochete surge, no estudo encomendado pela Confederação da Indústria Portuguesa, como uma alternativa com menores impactos ambientais que a Ota. Com a vantagem de poder ser feito faseadamente, conforme as necessidades de expansão do mercado aéreo.
Coordenado por Carlos Borrego, ex--ministro do Ambiente e responsável pelo Instituto do Ambiente e Desenvolvimento da Universidade de Aveiro, o estudo que avalia localizações alternativas para o novo aeroporto de Lisboa é apenas o primeiro de mais três que se seguirão.
     Depois da opção Rio Frio ter sido chumbada por razões ambientais, importava perceber se na Margem Sul este tipo de questões era incontornável. Para se concluir que não. "É, aliás, uma melhor opção que a Ota e estou convencido que depois de melhorarmos os indicadores, a diferença vai ser ainda maior", disse ao PÚBLICO o coordenador do estudo.
     Desde Abril, foram comparadas oito localizações: Ota, Poceirão e seis alternativas junto ou dentro do Campo de Tiro de Alcochete. Estas últimas, designadas na avaliação como estando na zona H, variavam entre si pela orientação das pistas, tendo sido consideradas três no enfiamento este--oeste, e mais três norte-sul.
     Para todas elas foram avaliados diversos aspectos ambientais, como as áreas de interesse natural, as áreas florestais e a hidrogeologia, entre outras. A que se juntou uma avaliação das acessibilidades, que será alvo de um estudo complementar, mas que aqui é já aflorada dando-se conta das mais valias da zona H como a que capta mais habitantes no menor tempo de acesso (20 e 30 minutos).
     Entre todos os indicadores, os que assumem maior relevância são a interferência com a Zona de Protecção Especial (ZPE) para aves do estuário do Tejo e o abate de sobreiros. Porque foram estes que chumbaram Rio Frio e impuseram a Ota. A que acrescem a interferência com o aquífero da bacia Tejo-Sado e o ruído.
     Em relação à ZPE, verificou-se se haveria sobrevoo a menos de mil pés, o que é proibido por lei. Para se concluir que em várias das localizações avaliadas na zona H, este problema não existiria.
Mas a Quercus lembra que o campo de tiro só não se encontra classificado como ZPE porque, na altura, alegou-se interesse de defesa nacional. "É verdade", responde Carlos Borrego, "mas o campo de tiro tem 7500 hectares e a alternativa que consideramos a melhor fica na sua ponta leste, portanto afastada em dez quilómetros do limite da ZPE".
     O comunicado ontem divulgado pelos ambientalistas coloca grandes cautelas à viabilização de um aeroporto no campo de tiro, mas foi emitido antes de ser conhecido o estudo. Perante este, Francisco Ferreira alega que não será tanto a área de implantação que pode interferir com a ZPE, mas sim os acessos ao aeroporto, "que dificilmente evitarão a zona classificada". Em relação aos sobreiros, a opção avançada como a melhor - denominada H6 - implica um menor abate de árvores que a própria Ota, ou seja, 1443 contra 6187.
Mas a grande questão da margem sul do Tejo é a existência do maior aquífero do país, essencial ao abastecimento urbano, industrial e agrícola da região. A alternativa considerada como a melhor apresenta um índice de susceptibilidade médio a baixo. Mas este é um indicador em que as opções avaliadas perdem relativamente à Ota, a quem, por ausência de dados, foi atribuída pela equipa a classificação máxima, apesar das reservas de Borrego: "Em Alcochete está-se longe de água à superfície, ao contrário da Ota."
     Todas as alternativas foram classificadas conforme os pontos que foram conseguindo nas diferentes categorias analisadas. A H6 recebe mais de 87 por cento, enquanto a Ota não vai, no melhor dos cenários, além dos 64 por cento. Outra questão surge como certa: o Poceirão também não se afigura como uma boa alternativa do ponto de vista ambiental. Contra ele tem o enorme senão de se situar no corredor de circulação de aves entre o Tejo e o Sado.»

Jornal Público - 12.Jun.2007, Ana Fernandes

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