A propósito da participação de Odete Santos nas comemorações do Dia Internacional da Mulher, relembramos aqui a sua representação da personagem de
Inês de Castro no drama "
A Castro", de António Ferreira. O evento teve lugar no Castelo de Palmela, no dia 6 de Setembro de 1970, levado à cena pelo Grupo Cénico da Sociedade Filarmónica Humanitária, de Palmela, com supervisão do escritor Romeu Correia. Tratou-se de um espectáculo integrado na Festa das Vindimas e a que assistiu o Governador Civil de Setúbal. A fotografia, onde também está Maria Clementina, foi publicada no Jornal de Almada, onde se pode ler um texto de Vítor Aparício de que reproduzimos este trecho:
Um dos claustros do Castelo de Palmela cai em total silêncio e escuridão. De súbito, rompem os acordes de uma vibrante sinfonia e a luz pálida dos projectores ilumina as figuras de Castro e de D. Pedro, que sobem os degraus em silêncio, se encontram e se despedem. E eis que nasce a tragédia... até findar mais tarde numa lenta agonia de sangue com o tablado inundado de vermelho escarlate, quando a Castelhana é arrastada para a morte, enquanto a luz dos archotes empunhados pelos monges projecta sombras trágicas e fantasmagóricas nas frias paredes do claustro, ao mesmo tempo que o vento sopra de mansinho, solidário e agreste. Os nossos primeiros aplausos foram para a dr.ª Odete Santos, que encarnou a figura de Inês de Castro — um papel de real importância e por consequência, cheio de responsabilidades. Rica em emotividade, de fácil gesticulação e de preexcelente dicção, tudo isto aliado ao seu auto-domínio e auto-condução, a dr.ª Odete Santos é um elemento de grande valia ao serviço do teatro amador. Diremos mesmo, sem receio de erro, que a sua propensão teatral é o sumo do seu talento. Isto, sem menosprezar José Carlos (D. Pedro) e Alberto paquete (D. Afonso IV), que souberam desempenhar o papel que lhes coube. De realçar, também, a interpretação de Maria Clementina (Ama), pelo seu excelente timbre de voz e boa presença artística. Carlos Rodrigues (no papel de Diogo Lopes Pacheco) e António Matos (que encarnou Nicolau Coelho), cumpriram a missão de Conselheiros de El-rei, pessoas para quem «o bem comum justificava obras duvidosas». |
|
Algumas notas sobre este texto:
O Carlos Rodrigues referido é, claro, o "Manuel Bola" que, tal como Maria Clementina, perseverou no teatro amador, vindo ambos mais tarde a integrar o Teatro Animação de Setúbal;
Inês de Castro não era Castelhana, mas sim Galega, e a diferença não é despicienda. A boa vontade que nos leva a classificar como símbolo do amante romântico um político que apreciava sobretudo dormir com um determinado criado (que mais tarde castrou num ataque de fúria) e que chegava a mandar matar pessoas por motivos fúteis — e daí o cognome de "o Cruel" — impede-nos de compreender o que estava em jogo nesta ligação entre Pedro e Inês: o delicado equilíbrio com Castela, ameaçado por esta aliança implícita do futuro rei com a Galiza; e, em última análise, a independência de Portugal — extraordinário fenómeno político que não foi conseguido só com gestos galantes e cavalheirescos (sobre este episódio veja-se este texto →);
Diogo Lopes de Pacheco, um dos conselheiros do rei implicado na morte de D. Inês, e que logrou fugir para o estrangeiro (e escapar) é antepassado directo do político e intelectual nosso contemporâneo, José Pacheco Pereira.
0 Comments:
Post a Comment
Subscribe to Post Comments [Atom]
<< Home